A utilização de plantas pode ajudar a melhorar o solo, que é a base de todo o sistema do jardim e da horta.
Para se ter um jardim e horta mais bio, deve começar-se por dar muita atenção ao solo.
O solo é a base de todo o sistema do jardim e da horta, ele deve fornecer água e nutrientes às plantas bem como abrigar seres vivos benéficos para estas.
Plantas que melhoram a qualidade do solo
Em primeiro lugar podemos considerar algumas plantas que ajudam a melhorar as qualidades nutricionais e/ou estruturais de um solo, nesta categoria incluímos muitas leguminosas e também algumas gramíneas.
As leguminosas
São uma grande família de plantas que inclui os feijões, as ervilhas, favas, lentilhas, mas também árvores como as acácias, as alfarrobeiras e as olaias, e arbustos como o tojo. Todas as leguminosas partilham uma característica que as define; uma simbiose com bactérias fixadoras de azoto atmosférico. Estas formam nódulos nas raízes das leguminosas onde o azoto que fixam é disponibilizado à planta em troca de açúcares produzidos na fotossíntese.
Leguminosas de inverno/primavera
Em Portugal a maioria das leguminosas possíveis de consociar com um jardim ou uma horta são normalmente plantas de inverno/primavera, como as favas, as ervilhas e os tremoços, por exemplo. No verão, o feijão pode ser usado. O ideal é semear as leguminosas no final do outono e, depois de colher os seus frutos, enterrar a vegetação de modo a enriquecer o solo com todo o azoto que se encontrava concentrado na matéria vegetal.
Na agricultura esta prática tem sido muito utilizada ao longo da história da humanidade, e numa pequena horta é fácil de a replicar, uma vez que podemos aproveitar o inverno para produzir leguminosas que nos agradem ao mesmo tempo que enriquecemos o solo para as culturas de verão. Algumas, como o tomate ou o pimento agradecem visivelmente a contribuição das leguminosas semeadas anteriormente.
Utilização de tojo como adubo concentrado
Antigamente as pessoas no meio rural recolhiam os “matos”, largamente compostos por leguminosas como os tojos, para compor a cama do gado. Esta cama era depois levantada, curtida (compostada) e depois incorporada no solo nas hortas. Estes composto era riquíssimo em nutrientes e formava um “adubo concentrado” muito eficaz, riquíssimo em vida microscópica que era introduzida no solo junto com o estrume.
Com o desenvolvimento de fertilizantes produzidos de forma industrial esta prática de recolha de matos foi quase abandonada. E apesar destes garantirem a fertilidade necessária para as plantas, não incluem os microrganismos benéficos que o composto assegura.
Fertilizar o jardim com leguminosas
No jardim também é possível aproveitar o melhor das leguminosas. Existem muitas variedades de tremoços ornamentais que ganham um porte significativo e têm flores muito apelativas, são muito decorativos na primavera no auge da floração. Tal como no caso das hortas estes tremoços podem, no fim da floração, ser incorporados no solo do jardim e assim acrescentar-lhe matéria orgânica valiosa.
O azoto
O excesso de azoto no solo pode ser problemático. Normalmente estes solos têm mais problemas com infestantes sendo um indicador muito frequente a presença de urtigas e malvas. Uma redução dos níveis de azoto irá reduzir a competição com infestantes e melhorar as condições para a produção de hortícolas por exemplo. Na horta, o excesso de azoto pode afetar a produção de tudo o que for frutos uma vez que a planta se torna demasiado vegetativa em vez de frutificar é literalmente “muita parra e pouca uva”.
Cereais, adubo verde
Também na agricultura se descobriu uma forma de solucionar este problema. Uma forma muito eficiente é a sementeira de cereais como adubo verde. Os cereais (os mais utilizados são o trigo, o centeio ou a cevada) são muito eficientes a consumir o azoto no solo e a melhorar a estrutura do solo.
Ao contrário de outras plantas muitos cereais não têm raízes muito profundas mas formam uma rede de raízes muito densa nas camadas superficiais do solo. Esta rede permite a entrada de oxigénio e água no solo, descompactando o solo e permitindo que outros organismos encontrem condições favoráveis. Os cereais também protegem bastante bem o solo durante chuvadas. As suas raízes seguram a terra, impedindo que esta seja arrastada.
Organismos inimigos das plantas
Além dos problemas nutricionais o solo também pode apresentar problemas com organismos inimigos das plantas, sobretudo aqueles que causam doenças, como fungos, bactérias e nematodes. Também neste caso a Natureza nos pode apresentar algumas soluções.
Nematodes
São um grupo de seres vivos que se assemelha a minhocas microscópicas. Existem nematodes adaptados a ambientes diferentes; desde predadores, espécies marinhas, espécies que são parasitas (as lombrigas), e espécies que parasitam as plantas.
Nestas últimas são muito conhecidos os nematodes das galhas, assim chamados porque formam galhas nas raízes das plantas. Estes nematodes são mais frequentes em solos arenosos e as solanáceas são particularmente suscetíveis.
Os juvenis entram nas raízes após a eclosão e induzem o crescimento das células vegetais formando galhas. As galhas servem de proteção e alimento para os nematodes no interior. Estas limitam o funcionamento normal das raízes, dificultando a passagem de água e nutrientes. Quando atacadas, as plantas reduzem significativamente a sua produtividade e apresentam caules finos e aspeto debilitado. Na agricultura, são ainda frequentes nematodes que atacam cenouras deformando-as, e batatas nas quais reduzem muito a produção.
Biofumigação
O combate a estes organismos pode ser muito difícil. A prevenção bem como a rotação de culturas são as medidas mais eficazes para o seu controlo. Algumas técnicas recorrem a um tipo de adubação verde para ajudar a controlar este problema; a bio fumigação. Para este fim realizam-se sementeiras de mostarda ou outras brássicas. Estas plantas são depois incorporadas no solo e a sua decomposição liberta substâncias com efeito nematodicida.
As mostardas têm a vantagem de terem níveis elevados desta substâncias e crescerem rápido, pelo que são muitas vezes utilizadas. Por vezes após a incorporação no solo, este é ainda tapado com plástico por algum tempo para que os gases produzidos tenham o maior efeito possível nos nematodes.
Rotação de culturas e consociações
É sempre aconselhável fazer rotação de culturas para que os nematodes não tenham sempre o mesmo hospedeiro disponível e assim se mantenham no solo de forma permanente. Mas existem também plantas que podem consociar não antes mas durante a cultura principal, são as plantas-companhia.
O cravo-túnico
Um caso positivo de planta-companhia para combater nematodes é o cravo-túnico. Algumas variedades de cravo-túnico produzem substâncias que matam nematodes. Outras funcionam como armadilha, atraindo os nematodes para as suas raízes onde estes não se conseguem reproduzir. De qualquer forma plantar cravos-túnicos em conjunto com tomate ou outra espécie mais sensível aos nematodes pode ser uma boa ideia.
Adição de matéria orgânica
Mais uma vez, adição de matéria orgânica é a chave para o sucesso e prevenção de doenças do solo. Ao adicionar composto ou matérias verdes das leguminosas/cereais, aumenta-se o número de inimigos naturais no solo capazes de estabelecer um equilíbrio no ecossistema. Estas técnicas são mais trabalhosas e demoradas relativamente à utilização de soluções artificiais como os pesticidas, mas no jardim ou na horta, creio que temos todas as ferramentas para o fazer de forma sustentável, promovendo a biodiversidade do ambiente que nos rodeia.
https://revistajardins.pt/adubacoes-verdes-saiba-como-fazer/